mamãe, não tenho mais medo do escuro, mas as vezes sinto falta da luz.
Para minha mãe, que me legou como herança dores de cabeça hereditárias, problemas no ventre e a habilidade de ser melancolicamente quebrada.
De mim, uma filha que na fase adulta tem medo do abandono e, por puro temor, se antecede a ele.
Eu estive refletindo sobre as coisas, e não falo isso porque penso demais, talvez até por isso, mas também porque me encontro em uma situação que, por dizer o mínimo, é desmotivadora. Me apaixonei por alguém depois de três anos sozinha, e, por um momento, me permiti acreditar que havia algo além do meu próprio abismo desconfortável capaz de trazer conforto. Mas não, não há. Na verdade, só fez aumentar a saudade de onde eu já estava.
A bendita frase “tudo pode piorar”… e acreditem, pode mesmo.
Agora entendo minha mãe.
Falo isso com base na totalidade de suas experiências, nas vezes em que se entregava a relacionamentos para não ficar sozinha, e, ao primeiro sinal de abandono, se colocava em situações desprezíveis, tudo para evitar o vazio da solidão. Acho que estou fazendo o mesmo.
Comendo farelos de algo que, pelos deuses, eu só queria me esbaldar. Quero ser amada além do que é considerado normal, quero ser amada de verdade, sem me perder na dúvida de que sou capaz de ser amada.
Pelo menos, ao contrário de minha mãe, eu fujo dos vínculos afetivos, porque meu lema é: “não ouse roubar a minha solidão, se não fores capaz de me fazer companhia de verdade”. Prezo muito pela minha solidão nesse abismo desconfortável, e não a troco por uma falsa sensação de paraíso confortável com alguém. Mesmo que, recentemente, tenha feito isso.
E, para completar, aqui estou, me alimentando de farelos. Droga.
Mas um dia eu desperto, porque, infelizmente, me sou melhor aproveitada na dor. Minha loucura lúcida para escrever só surge nela, e a revolta de descontentamento também vem com ela.
Acho que puxei isso da mamãe também.
A necessidade de apanhar, apanhar e apanhar, até finalmente encontrar forças para reagir. Nunca reagimos de primeira. Nunca partimos na primeira dor.