Retalhos.
Sou feita de dez por cento de mim e noventa por cento das pessoas que cruzaram meu caminho e, por acaso ou descuido, deixaram algo para trás: uma música favorita para eu lembrar, livros da Clarice Lispector, sabores de pizza que nunca quis experimentar, mas provei.
Não me sinto inteiramente eu, porque tudo o que sou me foi dado em algum momento, de bom grado ou não.
Isso é ruim?
Não sei.
Acho que ninguém é cem por cento si mesmo. Somos todos retalhos de outras pessoas, como aqueles edredons feitos de camisetas colecionadas ao longo de viagens. No fim, sou uma camiseta no edredom de alguém, assim como esse alguém será um pedaço do meu.
Mas não sei se quero ser só uma camiseta. Talvez eu queira ser o edredom inteiro.
Tirando essa analogia meio esquisita, acho que todo o resto faz sentido. Você me entende? As coisas parecem desconexas, mas, se pensar bem, acabam se ligando.
Tal como um edredom de camisetas colecionadas em viagens.